quarta-feira, 29 de junho de 2011

LAJES STEEL DECK

Uso de lajes steel deck ainda é restrito no Brasil; confira as orientações para especificação e execução do sistema
Divulgação: Perfilor


Leve, prático e veloz de montar, o steel deck, também conhecido como lajes mistas ou colaborantes, atua como armadura positiva da laje. O sistema funciona como plataforma de serviço e suporte para o concreto e dispensa parcial ou totalmente os escoramentos, permitindo agilidade na etapa de execução e reduzindo custos com mão de obra e com aluguel, montagem e desmontagem de equipamentos.
"A grande vantagem do steel deck é que ele confere agilidade ímpar à obra por evitar trabalhos manuais de colocação e retirada de fôrmas e escoramentos, reduzindo também o desperdício de material", observa Waldemar Marotta Júnior, diretor-executivo da Racional Engenharia. "As lajes são leves e exigem equipamentos de pequeno porte para sua movimentação dentro da obra, podendo, até mesmo, ser transportadas manualmente", completa o engenheiro Luiz Roberto Campanhã, gerente de engenharia da Serpal Engenharia e Construtora. 

Apesar dos benefícios, a utilização dessas lajes ainda engatinha no Brasil. Ideal para compor um conjunto construtivo com pilares e vigas metálicas, o uso do sistema em território nacional ainda se restringe a obras com prazos exíguos ou cuja logística é crítica, como por exemplo, na construção de edificações verticais em áreas urbanas confinadas. 
Especificação
O ideal é que o uso do steel deck seja previsto ainda no projeto, já que nessa fase é possível dimensionar os vãos, espessuras das chapas e o concreto a ser utilizado de acordo com as sobrecargas exigidas. "Considerar a especificação em projeto é fundamental, pois o steel deck propicia a utilização da configuração estrutural mista (aço da viga + concreto da laje), impondo a utilização de conectores de cisalhamento nas vigas", explica o engenheiro e projetista estrutural Carlos Freire.

Em função dos vãos adotados, as lajes podem suportar sobrecargas de utilização de 1 mil kg/ m² a 2 mil kg/ m². Mas o sistema se mostra competitivo, sobretudo, em situações em que os vãos variam de 2 m a 4 m. Nessa condição, dispensam escoramentos e, consequentemente, agilizam o cronograma da obra. "A experiência tem mostrado que o steel deck é aplicado com escoramento intermediário em vãos maiores que 3 m", argumenta Freire. De acordo com especialistas, a especificação dessas lajes metálicas deve ser evitada em casos onde as sobrecargas sejam superiores a 3 t/m2 e em panos onde sejam necessários muitos furos como, por exemplo, em lajes suporte de casa de máquinas de elevadores.
Execução e contratação
O correto posicionamento e fixação das lajes junto à estrutura, a distribuição uniforme do concreto durante a fase de concretagem (evitando acúmulos em um único ponto) e a colocação de arremates de contenção lateral do concreto são pontos fundamentais para garantir uma perfeita execução do sistema. Nos pavimentos nos quais as cargas dinâmicas interferem na união entre a forma de aço e o concreto, é necessário prever uma armadura de aço, que deve ser disposta na parte superior da laje.

Outra recomendação dos fabricantes é evitar aditivos à base de cloretos para aceleração de cura do concreto, já que eles podem comprometer a galvanização das chapas de aço. Pelo mesmo motivo - risco de corrosão - as lajes mistas podem exigir armaduras de reforço em edificações erguidas em ambientes agressivos como áreas costeiras, sujeitas a sais clorados. Em caso de solicitações específicas de resistência a incêndio, deve ser considerado o uso de armaduras adicionais ou aplicação de forros suspensos, ou ainda a pulverização de fibras isolantes na face inferior da laje.

A execução dos conectores também exige uma série de cuidados especiais, a começar pela contratação de uma empresa especializada para executar esse serviço. Caso sejam especificados perfis metálicos, a pintura da face superior deve ser evitada, permitindo, desse modo, a eletrofusão dos conectores. Por se tratar de um material que faz parte da integridade e estabilidade da construção, a recomendação, na hora de fechar o contrato com fornecedor, é procurar sempre por empresas idôneas, que tenham um controle de qualidade eficiente e especificações fiéis ao produto acabado. 

Checklist
Projeto

n Para obter o máximo desempenho e evitar transtornos na execução, é importante que o projeto preveja o uso do steel deck e compatibilize o produto com a arquitetura e demais projetos complementares.
n A especificação das lajes metálicas colaborantes deve ser evitada em casos onde as sobrecargas sejam superiores a 3 t/m2 e em panos onde sejam necessários muitos furos.
Fornecedor
n Opte por empresas que possuam competência e experiência em projeto, engenharia e montagem da solução. 
n É fundamental que o fornecedor tenha todos os ensaios e comprovações de desempenho do seu produto. 
n Conte com um planejamento antecipado e detalhado, feito em parceria com o fornecedor, para garantir o cumprimento de todos os cronogramas de projeto e montagem.
n Na especificação do produto, o ideal é que o projeto de estrutura metálica seja apresentado ao fornecedor.
Execução
n Atenção para o correto posicionamento e fixação das lajes junto à estrutura, para a distribuição uniforme do concreto durante a fase de concretagem e para a colocação de arremates de contenção lateral
do concreto.
n No canteiro, os paletes de chapas metálicas devem ser armazenados em local seco, coberto e ventilado. Caso seja armazenado em locais abertos, providencie uma boa cobertura resistente à chuva e
bem ventilada.
n O manuseio das peças é simples, mas deve ser executado somente por pessoas qualificadas - duas pessoas podem montar entre 500 e
750 m² de laje/dia.
Normas técnicas
n NBR 6118 - Projeto de Estrutura de Concreto - Procedimentos.
n NBR 8800 - Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edifícios.
n NBR 10735 - Chapas de Aço de Alta Resistência Mecânica Zincadas.
n NBR 14323 - Dimensionamento de Estruturas de Aço de Edifícios em Situação de Incêndio - Procedimentos.
n NBR 14323 - Dimensionamento de Estruturas de Aço de Edifícios em Situação de Incêndio - Procedimentos (trata do uso do steel deck em temperatura ambiente e em situação de incêndio).
*Textos internacionais, como os da ASTM (American Society for Testing and Materials), também servem como referências normativas.
Mesa-redonda


Fotos: Marcelo Scandaroli


Que tipo de obra utiliza o steel deck?
Edson de Miranda - O espectro de obras é grande e varia desde shoppings centers, aeroportos, mezaninos, passarelas, entre outras. O uso do produto é bastante diversificado e é condicionado pelo projeto, que deve nascer prevendo a solução.
Ivan Lippi - O uso do steel deck depende do tamanho do vão entre as vigas previstas nos desenhos. Também é importante saber se a estrutura será ou não escorada. Essa decisão deve ser do engenheiro projetista. Os métodos construtivos são importantes e cabe ao projetista orientar o construtor como montar o sistema.
Que informações o cliente deve apresentar na hora de especificar o produto junto aos fornecedores?
Miranda - O volume de informações é grande. O ideal é que tenhamos acesso ao projeto de estrutura metálica. A partir daí sairão dados como os comprimentos das peças, os vãos que o steel deck deverá vencer, a sobrecarga desejada e a sobrecarga que será colocada sobre a laje, o tipo de concreto etc. São dados fundamentais para que possamos orientar corretamente o cliente.
Gianluca Brendolan - Nem sempre recebemos o projeto pronto para receber o steel deck. Quando isso acontece, informamos ao cliente que o produto não é capaz de vencer, por exemplo, vãos de
10 m sem escoramento. Lembramos, então,   que é possível adotar vigas secundárias para a utilização de uma laje steel deck com menores espessuras e, consequentemente, com menores custos. Em muitos casos, o cliente aceita essa opção para usar o sistema sem escoramento, principal característica do steel deck. Vale lembrar que o steel deck tem duas principais funções: na etapa construtiva funciona como fôrma e, depois da cura do concreto, como armadura (total ou parcial, dependendo da sobrecarga) positiva da laje. Em alguns casos é necessário o reforço de armadura para resistir às diferenças de sobrecarga. Fornecemos dados sobre o que costumamos chamar de paginação (comprimento das peças, acessórios etc.), mas se o cliente precisar podemos  oferecer informações mais detalhadas sobre armaduras.

Quais são os principais erros cometidos pelos construtores no momento da especificação?
Miranda - Quando um cliente, no meio da obra, resolve "pensar" o projeto no steel deck, e não conta com a orientação do fabricante, é frequente que ocorram problemas com os vãos. Existe uma quantidade grande de projetos que preveem outra solução e são objetos de consulta de uso do steel deck. Nesses casos, cabem adequações dos vãos e a devida interação entre o fabricante, o calculista e o cliente. Outra situação muito comum são projetos que chegam até nós sem detalhamentos.
Brendolan - Não é muito comum recebermos especificações incorretas do material no projeto. Na maioria das vezes, a especificação é feita pela empresa fornecedora, então não há como haver erros nesse sentido. É importante lembrar que não é só o vão que dimensiona o steel deck, mas também a espessura da laje, pois na etapa construtiva o concreto atua como sobrecarga.
O número de fornecedores é reduzido. Isso contribui para uma maior regulamentação do setor?
Miranda - O mercado é pequeno, não há muitos fabricantes de steel deck no Brasil, até porque o investimento no ferramental para produzir a solução é bastante alto. Além do fator investimento, é preciso ter um corpo de engenharia para respaldar o mercado. O steel deck é um produto diferenciado, cujo custo maior está na engenharia que a empresa tem de pagar para produzi-lo. Quem fabrica steel deck ainda tem a missão de desbravar  o mercado.
 
Os fornecedores atendem a todo o território nacional?
Brendolan - Diferentemente dos perfis de aço, que podem ser estocados no Brasil inteiro com barras de até 6 m, o steel deck é fabricado sob medida, sem possibilidade de emendas. Não há como ter diversos pontos de estocagem de steel deck no País, pois os projetos são customizados. Não é comum oferecermos pouco volume para regiões muito afastadas do nosso centro de produção, em Minas Gerais. Mas normalmente, as obras nas regiões Norte e Nordeste são de grande porte, o que acaba diluindo o valor do frete no custo global  do empreendimento.
Miranda - O custo de transporte por tonelada de steel deck fica muito próximo ao de um produto de aço, como o vergalhão, por exemplo.
Há demanda para aumentar a variedade de perfis?
Brendolan - Trabalhamos com duas seções, cada uma delas com três espessuras. Conseguimos atender a uma modulação de obra bastante ampla. Não faria sentido desenvolver, nesse momento, novas seções.
Uma das queixas apresentadas pelos construtores é a falta de literatura técnica sobre o assunto. Há alguma norma em vista para disciplinar a fabricação e instalação do sistema?
Miranda - No Brasil não existe uma norma para o produto final "laje steel deck". O que se tem são normas para produção de perfis conformados a frio. O projetista deve-se valer das normas de concreto e das normas estrangeiras para balizar a especificação, desempenho e execução do sistema. Sobre a literatura, temos os nossos manuais, mas essa é uma literatura do fornecedor do próprio produto, o que não é bom. O ideal seria que contássemos com textos de boa qualidade que pudessem ser vistos pelos calculistas como uma fonte de informação mais isenta. No entanto, o mercado ainda é incipiente e não encontramos esse material disponível.
A falta de orientação acaba impactando os custos já que, por conta do desconhecimento das práticas corretas, o produto pode ser subutilizado?
Miranda - A consideração errônea de custo tem grande impacto sobre o produto. O preço do steel deck não pode ser avaliado pelo metro quadrado da laje. Velocidade, limpeza, redução de mão de obra e tempo de construção, entre outros fatores, devem ser considerados na hora de equacionar  o custo.
Brendolan - O custo de uma laje convencional contempla o concreto e armadura e é comum que haja uma comparação do valor desse conjunto construtivo com steel deck. Cerca de 50% do nosso custo é composto pela chapa de aço. Na solução convencional, outros itens devem ser computados no comparativo de custo, como os escoramentos e o fator tempo de execução. Escoramento é caro e os custos envolvidos na sua montagem e desmontagem são altos. Outro ponto importante é que o tipo de laje a ser usado influi no custo da estrutura e isso também deve ser levado em consideração na hora de fechar  a conta.
Miranda - A economia proporcionada pelo steel deck está ligada ao fato de o produto ser fôrma, armadura positiva da laje e, dependendo das condições de vão e de carga de concreto, poder dispensar os escoramentos durante a concretagem.
Lippi - Outra questão importante é a sequência do lançamento do concreto que, quando mal executada, tende a empoçar. Em virtude disso, os gastos com concreto podem aumentar em até 10%, gerando um impacto considerável no orçamento. É fundamental que o engenheiro projetista acompanhe a etapa de execução. Todos os detalhes devem sair do projeto, pois é nele, inclusive, que é especificado onde estarão as juntas de concretagem, evitando eventuais trincas na laje.
O steel deck pode ser usado sem restrições em obras com grandes escalas, como é o caso da construção de habitações populares?
Miranda -
Do ponto de vista da fabricação, os equipamentos são velozes, permitindo uma grande produção de steel deck em um período razoavelmente pequeno. Em obras expressivas, há uma economia de escala que eventualmente pode impactar no custo da solução. Mas o uso para esse mercado é ainda restrito até mesmo para a consulta.
A execução das lajes steel deck exige qualificação da mão de obra?
Brendolan - Esse tipo de laje é simples de montar. Há empresas parceiras especializadas na montagem, mas em muitos casos a execução é feita pelo próprio cliente. Não há grandes segredos nessa etapa, apenas alguns cuidados de execução da conexão com stud bolts. Fornecemos, além das chapas, acessórios que têm a função de facilitar a montagem e a concretagem.
Miranda - A etapa de montagem não representa um grande desafio, pois a mão de obra no Brasil está muito habituada a trabalhar com concreto. Grande parte do steel deck vendido pelas empresas vem acompanhado por projetos feitos pelo departamento responsável do próprio fabricante. O cliente manda o desenho de metálica e apresentamos a nossa lista de materiais e onde e como serão executados os arremates, entre outras informações, com base nos nossos catálogos e manuais. O nível de informação proporcionado pelas empresas é razoavelmente bom.

Fonte: Revista Construção Mercado 108 - JULHO 2010

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